segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

PAI ESQUECIDO


Escute meu filho: digo isso enquanto você dorme aí com a mão sob o rosto, os cabelos pegados na testa úmida. Entrei de mansinho no seu quarto. Há poucos minutos, lendo meu jornal, fui tomado de um opressivo remorso. Inquieto, vim para perto do seu leito. 
Eis o que eu pensava, meu filho: fui implicante com você; repreendi-o quando se vestia para a escola porque não lavara o rosto com cuidado. Falei asperamente por causa dos sapatos sujos. Gritei zangado quando deixou suas coisas no chão.
Ao café, de manhã, achei pretexto também para resmungar. Você derramara leite na toalha; devorava em vez de comer; tinha os cotovelos sobre a mesa; punha manteiga demais no pão. E, quando saíamos, você para brincar, eu para tomar o bonde, você voltou-se, deu adeus com a mão e gritou: “Até logo, paizinho!” Fechei a cara e, como resposta disse: “Endireite os ombros!”
Depois, tudo recomeçou de tarde. Quando vinha pela rua, vi-o, de joelhos no chão, brincando; as suas meias estavam furadas: humilhei-o diante dos companheiros, mandando que seguisse à minha frente, para dentro de casa. As meias eram caras e se você tivesse que comprá-las teria certamente mais cuidado. Imagine, meu filho, ouvir isso de um pai!
Lembra-se quando, mais tarde, eu lia na sala e você entrou timidamente, com um traço de mágoa no olhar? Levantei os olhos do jornal, impaciente peã interrupção, e você hesitou na porta. “Que é que você quer?” rosnei.
Você não disse nada, mas correu pela sala e, num pulo rápido, atirou-se sobre mim, me abraçou, me beijou, e os seus bracinhos me apertaram com o amor que Deus fez florescer no seu coração e que nem a minha negligência conseguia reprimir. E então subiu as escadas celeremente.
Bem, filho, foi pouco tempo depois disso que o jornal me escapou das mãos e o meu espírito se sacudiu por uma preocupação terrível: que será de mim, se me escravizo a esse hábito de vier ralhando, estar sempre repreendendo? É a única recompensa que lhe dou por ser menino sadio? Não é que não o amasse; é que queria exigir de mais: media a sua juventude pelo gabarito da minha idade.
E avia tanto de bom, de excelente e veraz no seu caráter! O seu pequeno coração era tão amplo quanto a própria aurora a descer sobre os morros. A prova estava naquele impulso espontâneo de vir correndo para me beijar e me dar boa-noite. Nada mais vale essa noite, meu filho. Vim para o lado de sua cama, na escuridão, onde me ajoelhei envergonhado. É uma pequena penitencia; sei que você não compreenderia estas coisas se lhas dissesse durante as suas horas de vigília, mas amanhã serei um paizinho de verdade. Serei mais que amigo; sofrerei quando você sofrer; rirei quando você sorrir; morderei a língua quando me brotarem palavras impacientes. Direi repetidas vezes, como uma oração: ele é apenas um menino, uma criança.
Receio e temo que o tenha tomado por homem. Entretanto, meu filho, contemplando-o agora, encolhido e cansado, na cama, convenço-me de que é ainda uma criança. Ontem, você dormia ainda nos braços de sua mãe, a cabeça no ombro dela. Pedi de mais, pedi demais.   

Por W. Livingston Larned


é verdade!


domingo, 24 de fevereiro de 2013